O que levou à condenação o cardeal afastado pelo papa Francisco que agora quer votar no Conclave
23/04/2025
(Foto: Reprodução) Para a Justiça do Vaticano, Becciu desviou US$ 200 milhões da Santa Sé, investiu em fundos de alto risco e comprou imóvel de luxo com recursos destinados à caridade. Cardeal Giovanni Angelo Becciu, em 28 de julho de 2018
Andreas Solaro/AFP
O cardeal Giovanni Angelo Becciu, ex-Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, foi condenado, em 2023, a cinco anos e seis meses de prisão por envolvimento em um escândalo de corrupção. Nesta terça-feira (22), ele declarou que pretende participar do Conclave, mesmo tendo sido excluído da lista oficial de eleitores.
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Becciu é acusado de desviar US$ 200 milhões da Santa Sé, utilizando recursos da Secretaria de Estado para investir em fundos de alto risco e comprar um imóvel de luxo em Londres. Segundo a BBC, parte desse valor deveria ter sido destinada a obras de caridade.
À época, Becciu ocupava o posto de chefe de gabinete do papa, uma posição de grande influência dentro da hierarquia do Vaticano. O acordo que permitiu o uso irregular dos recursos foi assinado por ele.
Além disso, o cardeal teria direcionado verbas para a diocese de sua cidade natal, na Sardenha, beneficiando familiares. Ele nega as acusações e recorreu da condenação.
Em 2020, ainda sob investigação, Becciu renunciou aos direitos ligados ao cardinalato — renúncia que foi aceita pelo papa Francisco. A mídia italiana, no entanto, afirmou que o cardeal foi pressionado pela cúpula do Vaticano a renunciar ao cargo.
Além da pena de prisão, o cardeal foi condenado ao pagamento de uma multa de 8 mil euros e ficou inabilitado, de forma vitalícia, para exercer funções públicas no Vaticano.
O processo durou 29 meses e envolveu 86 audiências, mais de 600 horas de tribunal, 124 mil páginas e 2,4 milhões de arquivos.
Perda de influência
10 perguntas e respostas sobre o adeus a Francisco e o conclave
Becciu já foi considerado uma figura de destaque na Igreja. Conselheiro próximo de Francisco, chegou a ser apontado como possível sucessor do pontífice. Em 2018, foi nomeado cardeal pelo próprio papa, mas perdeu espaço após o escândalo vir à tona.
O religioso sempre negou as acusações e chegou a afirmar que o papa havia perdido a fé nele.
Foi também uma dor imensa ver o papa mudar de repente a sua opinião sobre mim de forma tão radical. Uma dor que aceitei como um teste à minha fé, afirmou em entrevista ao jornal italiano L'Unione Sarda.
Becciu diz que participará do Conclave
O Cardeal Becciu (à esq.) foi um conselheiro próximo do Papa Francisco
Reuters
Apesar de ter perdido o direito de votar no Conclave devido ao escândalo de corrupção, Becciu afirmou, na mesma entrevista, que participará da eleição do novo pontífice.
Em 2022, o Vaticano confirmou que o cardeal foi convidado por Francisco para participar do Consistório, mas esclareceu que os direitos do cardinalato não se referem à participação na vida da Igreja.
O Consistório é uma reunião de cardeais presidida pelo papa, na qual são decididas, por exemplo, a criação de novos cardeais e processos de canonização.
Na entrevista, Becciu também afirmou que a lista divulgada pelo Vaticano com os nomes dos cardeais aptos a participar do conclave não tem valor legal e deveria ser desconsiderada.
Apesar de seu nome ainda constar na relação do Colégio de Cardeais — grupo composto por 252 religiosos de todo o mundo que ajudam na organização do conclave e tomam decisões enquanto não há novo papa — Becciu não está entre os 135 cardeais com direito a voto. Dessa forma, ele poderia participar da preparação da eleição, mas não da votação em si.